A Batalha começa agora

sábado, 21 de junho de 2014

"O Monge, o Sino e o Dragão"

Eu não tenho uma espada. Eu sou a espada, a força e o poder. Eu sou Excalibur.

Parte I

Não se sabe ao certo o que levou os humanos a extinção. Estudiosos acreditam em escassez de recursos naturais, pandemias, guerras ou catástrofes climáticas, biológicas ou espacias. O que sabemos é que, depois que isso aconteceu, diversas criaturas, provindas dos mais diversos fins, passaram a lutar para estabelecer sua soberania... ou para sobreviver. Dentre elas, as mais poderosas, somos nós, Dragões.

Quatro grandes famílias de dragões prevaleceram nesses tempos sombrios, e foram apelidadas pelos naipes do baralho. A de Espadas, se chama Excalibur, e tudo mudaria quando um certo ovo, o meu, foi concebido. Um pesadelo para os Excaliburs.

Eu viria a nascer com um defeito inaceitável para um dragão. Eu seria mortal.

Era uma guerra fria. As famílias não se agrediam, mas sabiam que era uma bomba que explodiria a qualquer momento. Então todos procuravam se fortalecer. Um dragão defeituoso, seria mais que um estorvo para uma eventual batalha. Ele mostraria que os dragões de espadas estavam tendo proles fracas. A família de Espadas estaria fraca. O que mais eles poderiam fazer?

Não estou concordando. Nunca concordarei. Mas digo estas coisas com naturalidade pois, só depois, entendi como as coisas funcionam nesse novo mundo. Não existe amor, e quem acha que existe, morrerá tão rápido que talvez nem consiga descobrir que estava errado.

Eu me lembro de abrir os olhos pela primeira vez, ainda protegido pelo ovo. Eu despertei com o barulho das asas de meu pai, levantando voo, me deixando ali, num cemitério de carcaças, em meio a um deserto. É vergonhoso, eu admito, mas eu senti medo, e muita tristeza pela rejeição.

Meu ódio somente viria a seguir, quando me dei conta de que eu estava sozinho, e que chorar não me manteria vivo. Mas lutar sim.

Alguns instantes depois, dois carniceiros se aproximaram, a procura dos restos imundos dos quais eles estavam acostumados a se alimentar. Um deles avistou o ovo, e meu coração acelerou.

- Nossa que fome Paco... acho que eu comeria um búfalo inteiro.

- Calado, patife. Continue a procurar qualquer coisa digerível. O Chefe não vai gostar nada se voltarmos de bico vazio.

- Ah! O Chefe que se dane!! Melhor vazio o bico do que meu estômago... Não tem nada aqui!! Já roemos os restos dos restos de tudo que sobrou...

- Continue procurando.

- Eu já disse que... espere. O que é aquilo?

Os idiotas se aproximaram e começaram a examinar. Era mesmo um ovo, improvável, mas não impossível. Parece que eu não era o primeiro deserdado antes mesmo de nascer por ali.

- Que demais!! O Chefe vai nos promover de tanta felicidade!! Como vamos levá-lo?

- Leva-lo? Vamos comê-lo, Paco!!

- Você está louco? O Chefe nos mata e... ei, esse ovo se mexeu.

Depois de mais exames ( como aquelas criaturas eram tontas ) resolveram abrir o ovo para ver o que havia dentro. Meu coração batia desesperado, a respiração descompassada, eu nunca havia soltado fogo pela boca antes. Ele vem de dentro, vem queimando tudo, dilacerando mucosas, uma dor insuportável.

Mas assim que se abriram as primeiras frestas, aquele bico entrando no meu mundo, com aquela saliva gosmenta, aquele hálito de podridão, saiu tudo de mim vomitado, FOGO!! 

Feito isso, eu saltei de dentro do ovo e parei no chão em posição de ataque. É incrível a natureza. Você já nasce pronto para matar. Entretanto, tudo era novo. O som era perturbador, o eco do vento, o frio, e aquela luz imensa cegando meus olhos. Eu mal podia os abrir. Minha garganta queimava como a cabeça daquele urubu.

O animal, com o rosto em chamas, se afastou sacudindo-se tentando apagar o fogo. O outro entrou em pânico.

- Um dragão?! Pelo grande Mestre!! Um dragão?! Vamos fugir, Paco!!

Mas a criatura, com seu rosto deformado, cheio de bolhas, enfureceu-se de repente.

- Fugir?! EU VOU MATAR ESSE DESGRAÇADO!!

O outro insistiu na fuga, afinal era um dragão. Mas o tal de Paco não o ouviu. O orgulho ferido estava maior do que o estômago vazio. Além do que, por mais que fosse uma das criaturas mais poderosas da Terra, eu era só um recém nascido. Ele cometeu a fatalidade de me atacar novamente. E dessa vez não sobrou mais nada além de um cadáver em chamas, vazando aquele líquido negro de sangue apodrecido, vaporizando no fogo, espalhando aquele odor fétido por onde o vento podia se levar.

Apavorado, o urubu remanescente bateu asas. Eu ainda não sabia voar. O medo que ele sentiu, ter derrotado um inimigo, ter matado alguém que queria me matar... tudo aquilo me fez sentir o máximo. E eu sempre buscaria essas mesmas situações, para sentir aquela sensação novamente. Matar te faz sentir vivo.

Mas e agora? O que fazer, pra onde ir, em que direção seguir?

 Eu saí andando, pelo deserto. Algo me dizia que aquele urubu fugitivo não era coisa boa. Debaixo de um sol escaldante, já no limite das minhas forças, eu consegui levantar os olhos e olhar para o céu. Um ponto preto se mexia em círculos sobre minha cabeça. Depois outro e mais outro. E eles foram se aproximando. Vingança gera vingança.

O urubu foi contar por tal Chefe o que tinha acontecido. Eu tinha matado o filho dele, infelizmente. Ele veio com força total, meia dúzia de galinhas voadoras, a maioria mais sedenta por carne do que por revanche. Infelizmente para eles, dragões crescem absurdamente rápido. Com duas horas de vida, eu já tinha garras e dentes, mas de qualquer maneira, eu ainda não era forte o bastante para não sentir medo.

O medo é um sentimento dos fracos.

Os voos se tornaram cada vez mais rasantes, até que o líder deles ordenou o ataque. Por pouco eu escapei, saltando no exato momento em que esse cravou suas garras na terra. Haviam criaturas bem maiores no grupo. Cercado, eu não tive escolha, além de explodir minha cólera sem saber que, quanto mais ódio, mais fogo, e quanto mais fogo, mais poder. 

Foi um massacre. Cabeças, patas, penas, órgãos espalhados por todos os lados, sangue, muito sangue, e muito fogo. 

Com seis horas eu já sabia voar. Subi até um monte rochoso. Abaixei a cabeça para descansar. Onde estaria minha família? Sim, eu sei o motivo, mas não custa me perguntar: Por que me abandonaram? Por que me deixaram para morrer?

Quem é capaz de matar o próprio filho?

Mas o Universo foi se moldando, se reconstruindo em lados bem divididos. O Caos e a Luz. Assim como o frio e o calor, o bem e o mal, coisas opostas surgiram. Um equilíbrio. 

Diversas criaturas simpatizavam com uma força ou com outra. As vezes era preciso fazer alianças, quando não se era muito forte. Foram se criando diversos mundos, se amadurecendo, se fortalecendo para absorver outros mundos, numa guerra sem fim. 

O que não estava nos mundos, como aquele deserto, eram terras sem leis, onde a lei da sobrevivência prevalecia sobre qualquer outra. Como eu, sozinho e mortal, poderia me voltar contra uma das grandes famílias de dragões, lutar e derrotar meus pais. Vingança... essa era a regra.

A notícia do jovem e doente dragão vagando no deserto, e da ferida que ele abriu massacrando soldados do caos, chegou aos altos escalões. A tropa de Urubus mandou uma equipe de elite para me assassinar. E quando eles foram derrotados (risos), o capitão levou sua reclamação para a Tentáculo.

Tentáculo era uma tarantula gigantesca, chefe de diversos grupos agentes do Caos. O caso parecia insignificante para ela, mas a vida em sociedade tem dessas coisas. 

Ás vezes você tem que fingir que se importa.

- Perdoe-me o infortúnio. Eu sei que vossa senhoria tem coisas muito importantes para fazer e...

- Não tem problema, meu caro amigo. Em que posso lhe ser útil?

- É um dragão... a porra de um filhote de dragão. Não um dos poderosos imperiais dos quatro naipes, mas um bastardo. Está perdido no deserto e... é vergonhoso dizer, mas ele eliminou os meus melhores homens, além de outros diversos soldados. Só me restou vir até a senhora para lavar nossa honra.

Tentáculo permaneceu pensativa. E então disse:

- Então... vou mandar o meus melhores soldado para ele.

O Urubu, surpreso, começou a beijar a pata da aranha, agradecendo e se rebaixando mais do que o verme imundo que já era.

- Muito obrigado alteza, muito obrigado. Ele é um insolente. Matou muitos de nossos filhos e...

- Não se preocupe, meu caro. Qualquer urubu é como um irmão para nós, o Eixo do Caos.

Você conhece a cobra coral, a aranha marrom e o escorpião amarelo? Eles formaram a tríplice aliança de assassinos reais. Os desgraçados me seguiram por todo o deserto. Almoço sugestivo para todos os carniceiros de plantão, mas os urubus malditos os deixaram passar só para me ver morrer. 

Deitado, pensando na vida e em como eu conseguiria minha sonhada vingança, não percebi sua aproximação sorrateira. A pele de um dragão é grossa, e em muitas partes do corpo, coberta de duras escamas. As minhas ainda estavam se enrijecendo. Então só havia um lugar para que eu fosse picado. E eles não perderam tempo. Assim que bocejei, a minha língua foi mordida. Você não acharia sexy se soubesse a dor que se senti, e se duvida, dente beijar qualquer coisa peçonhenta por aí.

Meu instinto, obviamente, foi expulsar as malditas pragas da minha boca num jato de chamas incandescentes. Seus restos caíram mortos. Eles já sabiam que isso iria acontecer, era uma missão suicida. 

O veneno da aranha destrói as células vermelhas do sangue. Náuseas, dor, sudorese, falta de ar. O veneno da cobra e do escorpião é neurotóxico. Em pouco tempo atingiu o cérebro bloqueando os receptores nos músculos, insuficiência cardíaca e respiratória. Meu corpo foi amolecendo, e eu desmoronei.

Dragões costumam dormir por muitos anos, e se for estimulado por um coma então, pode levar séculos.

Se você achou estranho o jeito que eu entrei em hibernação é por que você não imagina o jeito como eu acordei: Com uma pedrada na cabeça

- Ai! - alguma coisa bateu na minha cabeça. - Aiai!! - sim bateu, e bateu de novo.

Resolvi abri os olhos para ver o que era. E era uma Harpia, azul, com uma longa cauda cintilante, reluzindo brilho e luz, encantadora... só que não. Soltei a baforada de fogo e enxofre na miserável que escapou por milímetros. Eu tava enferrujado, o fogo saiu frio.

- Cof! Cof! Calma aí, é assim que você me agradece por te despertar?

- Grrrr!! Quem é você? O que faz aqui?... Aonde estamos?

- A pergunta não é aonde, mas sim quando e... 

Tome fogo novamente. Aquela gralha maluca não tinha mesmo noção de onde havia se metido.

- Ei! Agora chega!! Mais uma dessas e eu vou ser obrigada a...

- Vai ser obrigada a quê? - Disse eu, mas algo estava diferente. Tudo estava diferente. Minha voz estava grossa, meu corpo pesado. Eu tive que parar para me alto analisar. Eu estava enorme.

- Espere, em que era estamos?

- Ah! Agora quer conversar?

Meu olhar mortal respondeu a pergunta dela, que continuou com deboche:

- Era de Aquário, senhor.

- Céus, aquário? Eu devo ter dormido uns seiscentos anos...

- Cruzes... isso explica o bafo, que vodu.

Eu rosnei e a segurei com minha pata.

- Me dê um só bom motivo pra não saciar minha fome de seiscentos anos com frango a passarinho?

- Um motivo só? Hm... informação...

- Informação?

- É!! - disse ela se soltando - In-formação. Você dormiu por seis séculos, precisa de alguém para lhe deixar atualizado. 

- Não há nada que eu queira saber de você. Tudo que preciso é localizar meus pais Excaliburs e acabar com eles de uma vez por todas.

- Excalibur? Você é um Excalibur? Sim, sim, o filho bastardo dos Excaliburs!!

- Grrrrrrrr

- Que grrrrrrrr!! Você só sabe falar isso? Qual é o seu nome, você ainda não me disse?

- Nome... eu... eu acho que eu não tenho um. Uma alma vagando em busca de vingança não precisa de um nome.

- Alma vagando? Já sei, vou te chamar de Soul!! Soul Excalibur!! O que acha?

Eu não precisava responder aquilo.

- Bem senhor Soul Excalibur, más notícias: Não será fácil derrotar os seus pais. Seus oito irmãos tomaram deles o poder deles, logo depois que você nasceu, e eles agora estão aprisionados. Todos os outros Excaliburs não existem mais. 

- O que está dizendo? Dragões são imortais.

- Não quer dizer que vivam para sempre. Olha eu vou te dar um exemplo. Seu pai foi transformado em uma estátua e esta localizado mas maiores montanhas do mundo, no Nepal.

- Meus.. irmãos.. se vingaram por mim?

- Qual é, bobão. Ninguém liga pra você, eles traíram seus pais apenas para ficar no poder.

O ódio me tomou o corpo, ascendeu minha moela, e eu soltava fogo pelas ventas. Malditos sejam meus irmãos, vou matar todos eles pelo que fizeram com meus pais. E depois eu acabo com meus pais. Parece ser um bom plano.

E enquanto eu pensava nisso comigo mesmo em voz alta, fui interrompido pela risada ensandecida da Harpia.

- Do que você está rindo?

- De você, ora!! Hahaha!! Primeiro quer se vingar do pai, agora quer se vingar dos irmãos por que eles fizeram mal pra pessoa que você queria matar.

- Como é mesmo o seu nome?

- Hahaha!! Ai ai, é Laura, por que?

- Por que gosto de saber o nome de quem eu vou matar - Grrrrrr

- Ai, para, de novo esse papo? Achei que já tinha-mos finalizado essa conversa. 

- Deixei você viver por informação. Agora que você já me deu, não tem mais serventia, além de jantar.

- Mas o quê? Escuta aqui seu bobalhão, se não fosse por mim você ainda estaria aí vegetando, se não fosse por mim você não teria nem nome!! Soul... Quem, em um mundo de hoje, rejeitaria um amigo?

- Eu não preciso de amigos.

- E um aliado? Hmmmmmmmmm?? - risos.

Tudo bem, eu estava de bom humor, então deixei aquela gralha viver. Não tava com tanta fome também, sem falar que era tão magrinha que mal ia dar para encher o buraco de um dente.

Ela estava procurando comida para levar para um refúgio próximo. Quando me encontrou, quis se certificar de que eu estava realmente morto antes de dar uma bicada e despertar a fera, por isso as pedradas. Corajosa, admiro isso nas criaturas. Corajosa e engraçada. 

Mas no caminho para o vilarejo, nos deparamos com uma tropa de aves de rapina. Águias, Falcões, e Urubus, armados com garras de aço, espadas, escudos, usando armaduras, máscaras para intimidação. Mas o que me chamou a atenção neles foi outra coisa... o cheiro de sangue.

- Por Morgana... Esses monstros estão vindo da direção do vilarejo.

Naquele momento, uma explosão aconteceu atrás da gangue. Eles não se assustaram, ao contrário, comemoraram se cumprimentando e dando risada. Um deles nos avistou.

- Ei, olha só aquela Harpia. Ela pertence aquela vila que acabamos de destruir.

Laura entrou em choque. Não sei se por medo, ou por saber que sua vila estava exterminada.

Quando eles começaram a se aproximar, eu dei um passo a frente e rosnei.

- Caraca, olha só, um Dragão!!

- Noooooossa, que muito louco!! Espere. Eles não habitam apenas a Europa e a Ásia?

- Eu acho que tem um na Oceania.

- Que isso importa? - Disse a águia para os demais, e depois, dirigiu-se para mim - Ei Dragão, não queremos problema com você, entregue a codorna e tudo vai ficar bem.

Eu olhei para ela e a coitada quase desmaiou. Tadinha, eu não sou tão ruim assim.

- Por que vocês querem ela?

- Iremos torturará-la até que nos dê a localização de mais esconderijos

- Nós estamos com fome!!

- E temos fantasias eróticas!! Não temos?

- NADA DISSO!! Vamos apenas matá-la como fizemos com seus demais. - Interrompeu novamente seu líder.

- Vão matá-la? Então tudo bem. Eu mesmo tô pensando em fazer isso há horas, ela não para de falar! Podem ficar com ela, será um favor.

Tá bom eu menti, eu sou mal sim, hahahaha!!!

Mas não pra tanto, calma... eu só disse isso para distraí-los enquanto assassinava todo o bando. Todos, menos um.

- Ouça seu verme asqueroso, eu deixei você viver para mandar um recado ao mundo. Diga que Soul Excalibur despertou. O Dragão Mortal se vingará de todo esse mundo e deixará minha marca na história. Some seu monte de lixo, vaza, vai anda logo.

Soltei umas rajadas de fogo no rabo do infeliz, pra ele correr mais rápido. Onde já se viu? Dizer que tem desejos eróticos... com aquela gralha? Eca!! Mas de qualquer maneira, Laura estava encantada comigo.

- Obrigada Excalibur... por um momento eu pensei que ia mesmo me entregar para eles.

- Não me aborreça. Eu posso mudar de ideia. 

Aquela euforia foi passageira. A medida que entramos na vila, só havia corpos e destruição. Laura não pode conter as lágrimas, apesar de, por algum motivo idiota, ela não quisesse que eu a visse chorar. 

- Por que tanta destruição? Tanto ódio? Tanto sofrimento... Olha isso Excalibur. Mataram todos. Todos. Até os idosos e as crianças. Não pouparam ninguém.

- E por que eles fazem isso?

- Era um grupo de extermínio. Existem dezenas deles. Estamos em guerra Excalibur.

- Quem está em guerra?

- O mundo está. Todos lutando contra todos. Não há paz nesse lugar. Só Caos. E aqueles malditos da Ordem do Zero não fazem nada para nos ajudar. Hipócritas!!

Eu continuei seguindo pelos destroços procurando, talvez, sobreviventes? Não sei o que eu estava fazendo. Queria achar qualquer coisa que consolasse aquela menina. Eu estava com pena dela.

- Eram sua família?! - gritei, pois ela estava distante.

- Não!! Quer dizer, como se fosse!! Eram todos refugiados, que encontraram aqui um abrigo. Mas fomos descobertos. Minha família de verdade já foi morta a muito tempo. Eu sobrevivi por que ainda era um ovo.

Eu não estava a ouvindo direito, estava muito longe e o fogo ainda crepitava. Então eu só respondia "Aham". Mas ouvi a parte de que ela era um ovo. E eu acabara de achar mais um.

- Laura!! Corre aqui!!

Quando ela se aproximou.

- Olha.

Havia uma coruja, jogada no chão, com uma flecha no meio do abdome, com a asa aberta, e um ovo junto ao corpo.

Quando Laura se aproximou para pegar, a coruja abriu os olhos.

- V-Vo-cês... por... favor... não machuquem meu bê-be...

E depois morreu. Eu precisei fechar os olhos dela. Dava agonia aqueles olhos abertos, credo.

Estava indo embora quando Laura me vem trazendo o ovo.

- Aonde você vai? 

- Não sei, vamos com você.

- Não vão não.

- Excalibur, não pode me deixar aqui.

- Você não é minha responsabilidade.

- Sou mais do que isso... sou sua amiga. Lembra?

Aff, aqueles olhões arregalados de cachorro pidão (Não que eu já tenha visto um, mas é maneira de falar.)

Deixei a ave vir comigo. Primeiramente saímos daquele lugar, com clima de pesadelo. Paramos as margens de um rio.

- Tem alguma coisa em mente?

- Vingança.

- Algo mais?

Bufei e perguntei de volta:

- E você, tem?

- Bem - Disse ela mastigando alguma dessas coisas que as aves comem (e pode ser qualquer coisa, desde um inseto a um pedaço seco de semente que eu nunca vi na vida) - Seus irmãos são muito fortes. Tinham que ser pra derrubar seus pais. - pausa para mastigar mais ( aquilo tava me irritando horrores) - Então seus pais devem estar putos.

- O que está querendo dizer.

- Vamos ao Nepal. Seu pai saberá como derrotar seus irmãos. Depois você se vinga do seu pai.

Olha... bom plano. Quer dizer, eu não tinha um melhor então, era o que tinha pra hoje. Mas eu gostei de ver uma maldadezinha naquela criatura. Achei bonitinho... Bleah!!! (risos). Mas precisava perguntar:

- E pra que esse ovo?

- Esse aqui? Ué, é meu agora. Ele vai com a gente. 

- Grrrr! Isso vai nos atrasar.

- Deixa-eu-cuidar-do-meu-ovo!!

- Tá, tanto faz. Vamos leva-lo. - e com um sorriso, prossegui - Posso sentir fome no caminho.

Laura sorriu. Partimos ao amanhecer.

Enquanto isso, o sobrevivente do grupo de extermínio chegou aos seus superiores. Depois disso ele foi morto por não ter morrido no dia em que me enfrentou. As gangues eram ferramentes uteis da Ordem do Zero, para não deixar a Luz crescer demais. Quando eles saiam de controle, a Ordem intervia. Assim era em todo o universo. Energia positiva demais danifica o equilíbrio. Os quatro Naipes estavam na mão da Ordem. Era uma máfia, os grupos mais poderosos, todos eles, Naipes, Ordem, Eixo. Uns lambendo os outros, como cães e gatos. 

A Ordem possuía integrantes de diversas províncias. Eles tinham seus dragões Dragon e Shura, da Família do Naipe de Ouro. Então, acreditando que seria melhor recebido que outro membro não dragão, eles mandaram Shura visitar os Excaliburs. A notícia de que existia um Excalibur que não estava seguindo as regras da Ordem era muito mal recebida.

Júpiter Excalibur, meu irmão mais velho e o mais forte, foi recebê-lo:

- Saudações meu irmão, que a Ordem esteja na sua casa!!

- Saudações grande Shura, o Dragão da Luz. Que o Mestre seja sempre sua direção!!

- Que assim seja!!

- A que devo a honra de sua gloriosa visita a humilde casa dos Excaliburs?

- Poderoso Júpiter, venho falar sobre um de seus irmãos.

Terra se aproximou. Os dragões são imortais, mas podem viver para sempre de maneiras diferentes. Minha irmã Terra se transformou em uma figura humana, feminina, e divinamente bela. Era a mais ousada e articulosa dentre os oito. A temia mais do que dois "Júpiteres."

- Oh, essa é minha irmã Terra.

- A figura Humana. Sempre suspeitei que seria Vênus.

- Vênus é uma desordeira, desorientada, irresponsável e...

- Terra, por favor, temos visita.

- Me desculpe, Grande Dragão do Dia. Se não me engano ouvi dizer a meu irmão Júpiter que outro irmão nosso está lhe causando preocupações?

- Sim Terra... falo sobre Soul. Soul Excalibur.

Os irmãos se entreolharam. E disseram não existir esse irmão.

Mas ele não existia, então era um impostor no terceiro mundo se passando por um Excalibur. De qualquer maneira eu estava perturbando a Ordem do Zero. Era pra eles ficarem espertos e tomarem cuidados.

Dentro do castelo, Júpiter reuniu os irmãos.

- Atenção todos, meus irmãos... Aparentemente aquele nosso ovo bastardo, que foi deixado para morrer, vingou. E possivelmente vai querer vingança contra nossa honrosa família. Aquele inválido. Para qualquer aproximação daquela anomalia, as ordens são essas: MATEM E ELIMINEM!!

Todos deram seu grito de guerra:

- EXCALIBUUUUUUURR!!

E caíram na risada.

No porão, minha mãe ouvia, acorrentada com correntes mágicas que drenavam seus poderes e a debilitavam progressivamente com muita dor e sofrimento.

Todas as lágrimas dela... também caíram.











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