Capítulo #13

 Os olhos atentos de Efito não paravam de se mover. As orelhas de pé. O ofato comprometido, com tanta poeira subindo. Ele rodopiava entre as pernas do gigante, que não conseguia acompanhar seus movimentos.

Sem pernas, o Coelho Juanito usava os braços para se locomover. Saltava, sacava suas incontáveis armas, atirava por baixo do inimigo, guardava as armas novamente e apoiava os braços no chão para um novo salto. Aqui e ali, e o bang bang corria solto.

- Arriba!! Arriba!!

- Iiiiiiiiiá!! - golpeava o Panda. E quando o gigante tentava alcançá-lo, ele saltava para a outra perna e golpeava. - Raiiiiiiiiiiiiiiiii - iá!!! - Mais um golpe, saltava no chão, escapava de um pisoteamento, e pulava para mais uma sequência.

As corujas planavam em círculos no céu, para não cansarem as asas, aproveitando-se das correntes dos ventos. 

- Eles estão tontos. É hora de atacar. - Sugeriu Morgana.

- Então vamos lá!!! - desceu em voo rasante, Liah, acompanhada das outras duas.

Chegaram perto, de repente. Surpreenderam-os como queriam.

A garra da rainha se fechou com força, o atrito entre suas unhas dispersou faíscas.

Mas ela errou por milímetros os olhos de um dos gigantes, antes dele se mover e atingi-la com uma braçada, e ser arremessada para o chão, com violência.

Morgana abortou o ataque, pouco antes de atingir o alvo, ao perceber que ele notara sua presença e esquivou de apanhar também.

Liah não teve tanta sorte. Cega de ódio, lançou-se com toda sua vida. Viu que o gigante movia seu braço em direção a ela mas achou que conseguiria ser mais rápido.

Levou um soco de baixo pra cima e foi jogada para o alto.

- Aaaaaaaaaaaaahhhhh!!!

- Liah!! - gritou o lobo, desesperado. - Ora, seu filho da mãe!!!

Indo para o alto, quando o impulso acabou, Liah abriu os olhos.

Estava suando, e as dores foram desmaiantes quando ela abriu as asas.

Desceu alguns pés, planando, até aproximar- se de Morgana.

- Você está bem?

- Ai... ai, tá doendo muito... - Chorando.- Não deu certo, Mô... E agora?

- A Valquíria está subindo. Repare, está voando sem sincronia. 

- Mo-morgana...aff

- Eu já sei, não deu certo. - Disse Morgana, mas parou e olhou para Valquíria. - Você está abatida? Você nunca fica abatida. Nunca demonstra suas fraquezas.

- Obrigada... - respirando com dificuldade. - Você também não. Mas eu sei que está pensando a mesma coisa que eu.

- Todas estamos, Val... Estamos perdidas. - Lamentou Liah. 

- CHICOS!! AS TRÊS MANDARAM PARARAM DE ATACAR!! - Se esgoelou, Juanito. - Vámonos nos afastar.

Eles correram para frente e encontraram com Valquíria e Morgana pousadas no chão.

Liah foi baixando o voo. E desabou sobre Efito.

Ele olhou por cima do ombro e disse:

- Ela está péssima. Vai desmaiar de tanta dor. 

- Morgana, não pode usar uma magia para ajudá-la.

- É arriscado, majestade. Se ela for hipnotizada para imaginar que não está com dor, com certeza vai lutar até morrer nessa batalha.

- Aaaah... é pra isso que... é pra isso que viemos, é pra isso que vivemos, para morrer um dia.

- Então faça sua vida valer a pena. - Disse com seriedade Efito, e continuou. - Vamos tentar novamente.

A maioria suspirou de desanimo.

- E por que acha que agora vai dar certo? Tá todo mundo morto aqui? - Respondeu Panda. - Olha o Juanito. Ele é uma pilha que nunca acaba a bateria... até ele está exausto.

- Exausto sí, mi amigo, mas no muerto!! Pero no tieno muchas balas mas...

- Mas é isso aí, não estamos mortos...

- Fizemos o nosso melhor, lobo.

- Não, não fizemos... Eu vi quando você refutou, feiticeira.

Morgana se espantou, e voltou a amortecer o olhar com Efito.

- Nós podemos conseguir, juntos. Vamos lá, vamos dar tudo que temos. Se morrermos, morreremos tentando. O que me dizem?

Todos olharam pelos cantos. 

- Eles estão se aproximando... - Preocupou-se o Panda.

Efito, que estava com um sorriso no rosto, acabou por abaixar a cabeça.

- Tudo bem. 

O lobo surpreso, levantou o olhar para a rainha.

- Eu estou com Efito. Não fizemos o máximo. Certo Morgana?

Respirando fundo, a feiticeira concordou.

- Bem, é uma ordem real.

- Não devemos obedecer, como capachos, devemos lutar, por nós mesmos, por tudo aquilo que acreditamos!!

- Vamos seus molengas... até parece que estão com a pata quebrada. - Murmurou Liah. - Vamos ou essa pelúcia não vai calar a boca.

Morgana sorriu.

- É um bom motivo.

- Ah, finalmente. Meus músculos estavam esfriando. - bufou Baby.

Todos sorriram.

Todos partiram para a la lucha!!

Efito correu com Liah sobre o corpo, saltou mas, após saltar com ela sobre as costas, ela tomou altura, e caiu, se arrastando no chão.

- Céus! Liah!!

Ele correu em seu auxílio.

- Fala comigo, fala comigo, você está bem?

Ela olhou para ele, com as pálpebras quase fechadas.

- ...vamos de novo.

- Olha, eu me enganei, nós não devíamos...

- Que papo é esse?... Pra que todas aquelas... palavras... e agora v-você quer desistir?

O lobo estava inconformado, mas a coruja insistiu:

- Anda, me joga nas suas costas. Eu vou conseguir. Confie em mim.

Efito olhou para os gigantes, já tão perto e Liah gritou:

- ANDA!!

*** 

- Cadê a Liah? - perguntou Morgana

Valquíria ficou pensativa.

A tristeza, as incertezas, o medo viriam a abatê-las quando...

- ALVO SE APROXIMANDO, SENHORAS!!!

A rainha sorriu. Liah estava de volta. 

Elas seguiram voando.

As mesmas posições, a mesma estratégia.

 Morgana estava ofendida. Não ia parar até suas garra cravarem no olho do gigante, e arranca-la de sua cabeça!!

A criatura gemeu e fechou o olho restante, mas quando abriu para localizar Morgana, a coruja já estava a sua frente para tirar-lhe o outro. 

Cego, o gigante ficou descontrolado.

- Éeeeee!!! - Comemorou Panda.

Valquíria também armou o bote. Dois olhos a menos.

- Si, senhorita, és una guerreira dos diablos, sí!!!

Novamente num voo cego, sem mal conseguir abrir os olhos, Liah viu o braço do gigante se aproximar.

- Não.. vai... dar... tempo...

Seguiu voando com toda sua velocidade.

- Ai.. tem que DAAAAAAAAAAR!!!

Ela se atirou e destruiu o olho do gigante com o bico.

Usando a pata boa para se apoiar na face do gigante, ela não pode evitar um golpe extremamente forte que a lançou na terra como uma pedra.

Valquíria e Morgana pararam no ar, voando sem sair do lugar.

Efito parou no tempo, vendo pernas gigantes se moverem sem direção para todos os lados.

Sons estrondantes a cada pisada, levantando poeira, entontecendo.

- Será que deu certo? - Perguntou Valquíria, ofegante.

- Cegos, eles não sabem o que fazer.

- Pelo Mestre!! Os meninos!! Eles serão pisoteados.

Mas um rugido duplo ensurdecedor veio do alto de uma colina.

Os gigantes param de se mover.

Um deles ainda tinha um olho. Ele olhou para donde vinha o rugido.

E o rei Babar levantou as patas dianteiras e barriu com toda sua força. 

Sua voz pode ser ouvida em todo o Mundo Fafito.

Todos olharam para eles.

O gigante que enxergava permaneceu observando por alguns momentos.

Então virou-se e seguiu em meia volta.

Os outros dois acabaram por acompanhá-lo.

- Estão fugindo. Vamos atrás deles.

- Não minha rainha. A maior vitória hoje... foi permanecemos vivos.

- YO NO SINTO MIAS PERNAAAASSS!!

- Céus, os meninos, vamos lá. - Disse a rainha e voaram para perto dele. 

- Ele não sente as pernas, Morgana!! - disse Valquíria para a amiga que fez cara de paisagem.

- Ele não tem pernas.

Valquíria, aflita, olhou para o coelho que sorriu.

- Idiota. - Ofendeu-lhe e soltou a cabeça no chão.

Babar desceu até onde estava Liah. Segurou-a com a trompa.

- Demoramos muito... ela está inconsciente. Mas com vida.

- Mas o Panda não.

Viram então Efito ao lado do amigo.

Valquíria olhou com desolação. Juanito se aproximou:

- Mi hermano... no puede ser.

- Pensei que fossem indestrutíveis. Como ele morreu?

- Nosotros não comemos, não sagramos ou sentimos dor. Mas respiramos. E quando foi pisoteado, faltou oxigênio para o ninõ. 

- Então se a maior vitória era estarmos vivos... essa nós perdemos. - Disse Efito, com lágrimas, recolhendo o corpo do amigo. - E você está errado, Juanito...

O coelho fez cara de mistério e o lobo concluiu:

- Nós nos machucamos sim.